No primeiro post sobre a autoria dos evangelhos, observamos que os evangelhos são internamente anonimos: o nome do autor aparece no título, mas não no texto.
Também discutimos as evidências históricas que conectam os evangelhos aos autores tradicionais: Mateus, Marcos, Lucas e João.
Por último, exploramos a hipótese dos céticos sobre uma conspiração. Segundo essa ideia, os evangelhos estavam em circulação nas igrejas do segundo século, porém ninguém sabia quem os havia escrito. Até que, em certo momento, alguns dos padres da igreja decidiram atribuí-los aos autores tradicionais.
Há muito tempo, em um passado alternativo, no segundo século, os quatro padres da igreja: Papaia, Sireneus, Clementino e Tortellinus, realizam uma reunião secreta para resolver um grave problema.
Papaia: "Os evangelhos são anônimos!"
Sireneus: "Isso não é possível! Você olhou direito?"
Papaia: "Procurei em todo o texto! Os nomes dos autores estão faltando!"
Clementino: "Oh, não! Talvez tenham sido escritos por pastores de ovelhas analfabetos!"
Tortellinus: "Precisamos fazer algo!"
Papaia: "Eu tenho uma ideia! Nós mesmos atribuiremos autores aos evangelhos!"
Seu assistente Igor entra com uma bandeja e servindo café para eles.
Igor: "Vocês procuraram pelos autores nos títulos?"
Papaia: "Silêncio! Não interrompa nossa importante reunião!"
Igor finalmente poderia explicar por que as pregações deles continham tantas... piadas!
Os evangelhos seguem o estilo da época.
Como explicar essas omissões do autor? Devemos considerar que os evangelhos seguem o estilo da biografia greco-romana. Este era o estilo mais comum naquela época para biografias. Neste tipo de obras, omitir o nome do autor era prática comum. Podemos ver exemplos disso em autores como:
- Josefo nas Antiguidades Judaicas,
- Júlio César nos Comentários sobre a Guerra Civil,
- Políbio em Diodoro,
- Filão nas biografias de Abraão, José e Moisés,
- Xenofonte em Anábase,
- Plutarco nas Vidas Paralelas.
Autores como Salas, Tito Lívio, Tácito, Porfírio, Filóstrato, Nepote também adotaram essa prática em suas obras.
Depois de um bom café, a discussão continua...
Sireneus: "Desculpem, mas como os pastores analfabetos poderiam escrever os evangelhos, se eram analfabetos?".
Papaia: "Os pastores inventavam as histórias, e os escribas as transcreviam!".
Igor: "Quase todos os autores da época faziam isso...".
Clementino: "Exato, Igor! Escreviam histórias inventadas pelos pastores!".
Igor: "Não! Eles omitiam seus nomes!".
Tortellinus: "Pare com isso, Igor! Você está nos fazendo perder tempo!".
Sireneus: "Espere! Talvez o Igor tenha razão! Deveríamos ler os evangelhos, desta vez... sem pular os títulos!".
Clementino: "Agora você também está do lado dele? Temos muito o que fazer, nao temos tampo para ler os evangelhos!".
Tortellinus: "Principalmente porque está quase na hora do almoço, e fizemos reserva no restaurante do Sérgio!".
Igor pensa consigo mesmo: "Com certeza eles têm razão nisso! São tão obtusos que o a unica coisa que eles sabem fazer bem é... comer!".
Todos os manuscritos têm os mesmos títulos.
Sempre que um manuscrito completo é encontrado, incluindo os mais antigos, os títulos são sempre os mesmos. Existem duas variantes: na forma estendida, “Evangelho Segundo”, seguido pelo nome do autor, ou na forma abreviada, “Segundo”, seguido pelo nome do autor. Podemos, portanto, pensar que os evangelhos sempre tiveram esses títulos.
Os quatro padres vão ao restaurante "O Tomate Espaguetado", onde o proprietário Sergio os acomoda. Igor acompanha os mestres, segurando os seus casacos. Enquanto esperam para serem atendidos, a discussão continua.
Papaia: "Falando em títulos... Ouvi dizer que os manuscritos têm uma grande variedade de títulos..."
Sireneus: "Quem te disse isso?"
Papaia: "Não me lembro bem..."
Sergio chega com os cardápios: "Bem-vindos de volta! Hoje temos uma grande variedade de espaguetes..."
Tortellinus lê o cardápio: "Espaguete com tomate, espaguete sem tomate, tomate com espaguete, tomate sem... espaguete?"
Papaia: "Mas que variedade é essa? É sempre o mesmo prato!"
Sergio: "Desculpem, mas fiquei sem ingredientes..."
Igor ri silenciosamente e pensa: "Os títulos dos manuscritos dos evangelhos são variados, como o cardápio do Sergio!"
O narrador sempre fala em terceira pessoa.
Seguindo este estilo, o narrador utiliza a terceira pessoa, às vezes até mesmo ao falar de si mesmo. O evangelho de Mateus é escrito completamente em terceira pessoa, assim como muitas outras obras escritas neste estilo. Seguem algun exemplos:
- Xenofonte, Anábase 3.1.4,
- Josefo, As Guerras Judaicas, 3.8.7
- Júlio César, As Guerras Gálicas.
O almoço acabou e os padres trocam as últimas palavras:
Papaia: "Vocês já perceberam que os autores sempre escrevem em terceira pessoa?".
Sireneus: "É verdade, deveriam usar a primeira pessoa ao se referir a si mesmos!".
Clementino: "Isso, claramente, prova que eles não estão falando de si mesmos...".
Igor: "Na verdade, é possível que alguém fale ou escreva sobre si mesmo na terceira pessoa...".
Enquanto isso, Sergio trouxe a conta. Hoje é a vez de Tortellinus pagar.
Tortellinus: "O que voce esta falando, é impossível, Igor! Vou te mostrar agora...".
Tortellinus pega uma caneta e escreve na conta: "Tortellinus hoje não vai pagar!".
Nesse instante, o paradoxo criado faz com que Tortellinus desapareça no nada!
Enquanto Sergio fica de boca aberta, os três padres rapidamente fogem pela janela do banheiro.
Então, Sergio agarra Igor pelo braço: "O truque deles pode ter funcionado! Mas agora você fica aqui... lavando os pratos!".
A autoria era afirmada por terceiros.
Para essas obras, a autoria é comprovada por uma cadeia ininterrupta de evidências. De fato, mesmo sendo internamente anônimas, ninguém questionaria a autoria das obras de Platão, Sócrates e Aristóteles. Também para os evangelhos, como já vimos, temos essa cadeia ininterrupta de evidências:
- Pápias (125 d.C.),
- Justino (150 d.C.),
- Cânone Muratório (170 d.C.),
- Irineu (180 d.C.),
- Clemente de Alexandria (180 d.C.),
- Tertuliano (207 d.C.).
Na salinha secreta, a reunião deles recomeça...
Papaia: "Com certeza, visto que os nomes dos autores estão faltando, nunca saberemos quem escreveu os evangelhos".
Igor: "Desculpem, mas todo mundo sabe quem os escreveu...".
Igor lista algumas das evidências sobre a autoria dos evangelhos. Os quatro ficam surpresos, mas se distraem pensando em quão bons são os espaguetes de Sergio, principalmente porque os comeram de graça.
Depois que a conversa termina, Igor, notando seus olhares perdidos no vazio, coça a cabeça.
Sireneus: "Esse preguiçoso está perdendo tempo para trabalhar menos!".
Clementino: "Com certeza isso é uma desculpa para fugir do trabalho!".
Igor: "Desculpem, vocês são verdadeiros mestres..."
Igor abaixa a cabeça e volta ao trabalho, murmurando baixinho: "Sim sim! Mestres... na arte de fugir do restaurante!".
Não há provas para a conspiração.
Se a conspiração de que estamos falando fosse verdadeira, deveríamos encontrar:
- cópias anônimas dos evangelhos,
- cópias com títulos diferentes,
- cópias atribuídas a autores diferentes,
- uma tradição alternativa.
Nenhuma dessas provas jamais foi encontrada. Enquanto temos abundantes evidências a favor dos autores tradicionais, uma eventual conspiração não deixou vestígios. Portanto, ela permanece apenas como uma hipótese contradita pelas evidências reais.
Como se nada fosse, os padres continuam sua discussão...
Papaia: "Vocês sabem se, para usar os nomes dos apóstolos, precisamos pagar direitos autorais?".
Sireneus: "Não sei, talvez devêssemos perguntar aos netos deles".
Clementino: "Cuidado! Eles podem a gente colocar na justiça!".
Mas naquele ano as ofertas tinham sido escassas. Com a invenção dos donuts, os irmãos começaram a comer em excesso e acabaram desenvolvendo diabetes. Papaia tentou dissuadi-los, mostrando provas médicas, durante uma de suas pregações.
Papaia: "... Portanto, vimos com provas que os donuts fazem mal! Pare de comer em excesso, ou você terá diabetes!".
Mas Jack, o presbítero, enfurecido, tinha se levantado: "Não escutem esse charlatão! Donuts são saudaveis e deliciosos!".
Então todos correram para a padaria, deixando Papaia pregando sozinho.
Assim, suspirando, Papaia conclui: "Bem, às vezes a verdade é mais amarga que um donut amargo!".
Sireneus: "Desculpe Papaia, mas donuts amargos não existem!".
Clementino: "É verdade! Donuts são... saudaveis e deliciosos!".
As igrejas eram independentes
Na história da Igreja, nunca encontramos um líder capaz de controlar todas as igrejas do mundo. Os líderes da época não conseguiam chegar a acordo nem mesmo em questões secundárias. Por exemplo, no século II, Aniceto, bispo de Roma, e Policarpo, bispo de Esmirna, reúnem-se para decidir quando celebrar a Páscoa. Depois de muitas discussões, a única coisa que concordam é que discordam. Então ambos voltam para casa, deixando o problema sem solução. Isto mostra como a influência dos líderes da igreja era geograficamente limitada.
A ser considerado.
A igreja não escolheu quais livros dar autoridade. Em vez disso, reconheceu que alguns livros em uso tinham autoridade.
Os critérios utilizados foram: o livro vinha dos apóstolos, era consistente com outras escrituras, era utilizado e aprovado pela igreja.
Livros anônimos como Hebreus foram reconhecidos como escrituras.
Os cristãos não aceitavam qualquer doutrina; eles analisavam as evidências de origem, como mostram as palavras de Papia, quando ele fala sobre suas fontes.
A reunião parece estar em impasse...
Papaia: "Aqui está a minha ideia. Para convencê-los todos, não precisaremos... convencê-los todos!".
Sireneus: "Papaia, eu te disse para não beber aquele prosecco lá em Sérgio!".
Papaia: "Você não entendeu! Vamos convencer o Aniceto!".
Clementino: "Ele não bebeu prosecco... Ele bebeu uma sambuca! Ele está falando do anis".
Papaia: "Agora estou ficando bravo!".
Tortellinus: "Calmo Papaia! são os efeitos do álcool!".
Papaia: "Ouça com atenção! Aniceto é o líder da igreja em Roma. Todos os cristãos o ouvem!".
Igor os imaginou vestidos de elfos, montando em unicórnios, voando para longe da realidade!
Vamos simular essa conspiração.
Vamos absurdamente fingir, que a conspiração existiu e vamos simulá-la.
A decisão.
Nas igrejas do segundo século circulam evangelhos anônimos. Eles são usados como Escrituras. Mas ninguém sabe quem os escreveu. Um grupo de padres da igreja se reúne e decide atribuir esses textos aos apóstolos com o objetivo de dar-lhes maior autoridade.
As escolhas.
Exceto a escolha de João, as outras três são questionáveis. A escolha mais óbvia deveria recair sobre Pedro, Tiago e algum outro apóstolo de maior importância. Em vez disso, é escolhido Mateus, um discípulo menos importante, ex-publicano: uma figura profissional odiada pelos judeus, o povo que representava seu principal público. Os conspiradores escolhem Lucas e Marcos, que não eram testemunhas oculares. Marcos, por fim, havia causado uma briga entre Paulo e Barnabé. Visto que a mesma tradição afirma que Marcos usou os sermões de Pedro, não teria sido mais fácil atribuir o evangelho de Marcos diretamente a Pedro? Essas escolhas, em conclusão, são ruins. Porque os conspiradores teriam escolhido esses autores?
Primeiro problema: Convencer a todos.
Agora os cospiradores, precisam convencer milhares de igrejas, espalhadas por todo o mundo antigo, a aceitar sua atribuição particular. No segundo século, as igrejas são independentes e não há um controle central. Não há uma figura, no segundo século, capaz de impor sua vontade sobre todas as igrejas do mundo antigo.
Segundo problema: Livrar-se das evidências.
Como mencionamos, nos dias de hoje não há vestígios dessa conspiração. Portanto, para fazê-la funcionar, os pais da igreja precisam se livrar de milhares de manuscritos anônimos já difundidos e circulando nas igrejas de todas as localidades geográficas. Eles precisam encontrar os manuscritos um por um e garantir que sejam corrigidos ou destruídos.
Terceiro problema: Calar as testemunhas.
Da noite para o dia, os evangelhos anônimos têm um autor. Milhões de cristãos sao testemunhas deste evento, mas ninguém fala. Na verdade, hoje não existe uma tradição pela qual os evangelhos eram inicialmente anônimos. Portanto, para que o plano funcione, os conspiradores precisam convencer todos os cristãos, um por um, a ficarem calados.
Quarto problema: Os possuidores não cristãos de cópias anônimas.
Além de ter influência suficiente para convencer cada cristão individualmente a obedecer, eles precisam ter influência suficiente para convencer da mesma forma os não cristãos. Certamente existem pessoas fora da igreja, e até mesmo opositores do movimento, que possuem cópias dos evangelhos anônimos. Algumas dessas cópias provavelmente estão em antigas bibliotecas, como a de Pérgamo. Como conseguirão, os pais da igreja, realizar esse trabalho?
Finalmente, o plano está pronto...
Papaia: "Aqui estão os autores que escolhemos...".
Papaia lista os autores que escolheram para os quatro evangelhos.
Sireneus: "Como vamos convencer a todos?".
Papaia: "Veja só? É fácil: vamos oferecer em troca... um donut!".
Clementino: "Genial! Ninguém vai recusar!".
Tortellinus: "Deixe-me pensar... Certamente esse plano é... infalível!".
Sireneus: "Como vamos corrigir todos os manuscritos?".
Papaia: "Vamos entrar nas igrejas à noite... vestidos de ninjas!".
Clementino: "Você é um gênio!".
Tortellinus: "Vamos nos chamar de patri-ninjas!".
Igor: "Parabéns! Vocês conseguiram misturar Papai Noel, Carnaval e a história do Titanic em um único plano!".
Papaia: "Não entendi? O que essas três coisas têm a ver com o nosso plano?".
Igor: "Veja, para entrar nas igrejas de escondido, vocês vão descer pela chaminé como o Papai Noel e se disfarçar com uma fantasia, como as crianças fazem no Carnaval".
Sireneo: "Sim... Mas e o Titanic, o que tem a ver?".
Igor: "Depois de dizer esse plano absurdo em voz alta, como o Titanic, vocês atingiram o fundo!".
Final trágico: os conspiradores são descobertos.
O final mais provável desta história é o final trágico. Os conspiradores são descobertos e exonerados de seus cargos com desonra. Eles perdem toda a sua influência e todo o trabalho de uma vida. Em um futuro alternativo, nos dias de hoje, a história deste plano fracassado chega até nós através das palavras de algum autor antigo. Estudiosos descobrem: manuscritos com títulos e autores diferentes. Nas obras de outros pais da igreja, encontramos discussões sobre os evangelhos semelhantes àquelas sobre Hebreus.
Os patri-ninja, demitem Igor por sua insolência, e ao cair da noite, enquanto todos estão em casa assistindo TV, penetram nas igrejas para corrigir secretamente os manuscritos.
Clementino: "O que era para fazer?".
Papaia: "E' para adicionar os títulos!".
Tortellinus: "Oh nao! Esqueci a tinta em casa!".
Papaia: "Porque você fez isso? Era a coisa mais importante!".
Sireneo: "Olhem! Alguém já corrigiu os manuscritos!".
Papaia: "Como isso é possível?".
Clementino: "Gente! Tem uma coisa ainda mais importante que esquecemos!".
Papaia: "O que?".
Clementino: "O jantar no restaurante do Sergio! Vamos chegar atrasados!".
Então eles deixam tudo e correm para o Tomate Espaguettado. Ao entrar no restaurante, Clementino percebe algo estranho: "Por que todo mundo esta nos encarando?".
Sireneus: "As fantasias de ninja! Esquecemos de tirar-las!".
Tortellinus: "Oh não! Eles vão perceber o que fizemos!".
Papaia: "Sabe o que e'? Nós erramos! Decidi confessar tudo e me demitir!".
Sireneus: "E o que será da nossa carreira?!".
Clementino: "Não se preocupe! Vamos encontrar um trabalho mais fácil e continuar comendo espaguetes!".
Tortellinus: "Estou de acordo, e já encontrei o nome para nossa equipe. Vamos nos chamar de... Banda Espaguete!".
Final feliz? Uma conspiração inútil.
Os pais da igreja fazem todo esse esforço e a conspiração é perfeitamente bem-sucedida. Mas então eles param por um momento para refletir e se lembram de Hebreus. Assim como os evangelhos, ela é difundida e usada em todas as igrejas. Hebreus já faz parte das Escrituras e tem a mesma autoridade que os evangelhos: para os cristãos, as Escrituras são textos inspirados pelo Espírito Santo. Então os conspiradores percebem que fizeram tanto esforço à toa. Na verdade, não havia necessidade de mentir sobre a autoria dos evangelhos. Eles já tinham desde o início a autoridade das Escrituras. Na nossa simulação, então, os pais da igreja aprendem uma lição: quem dá autoridade às Escrituras não são os homens, mas sim Deus.
No dia seguinte, eles aparecem na igreja. Papaia está conversando com os outros na sala, antes de começar o sermão.
Papaia: "Então estamos de acordo: vamos seguir com o nosso plano!".
Os outros três acenam com a cabeça.
Papaia: "Ótimo! Vou fazer o anúncio!".
Papaia sobe ao púlpito, diante da numerosa congregação.
Papaia: "Irmãos! Até ontem, os evangelhos eram anônimos, mas a partir de hoje, eles têm autores. Estes são: Mateus, Marcos, Lucas e João."
A congregação ri. Por uma improvável coincidência, eles haviam escolhido os verdadeiros autores dos evangelhos. Para a congregação, é óbvio que esses são os autores dos evangelhos, e eles pensam que Papaia está contando uma piada.
Papaia, com uma expressão perplexa, continua: "E quem aceitar nossa proposta, terá como recompensa... um donut!"
Os evangelhos atendem ao Cânon Bíblico.
No final do século II, o Cânon Bíblico é reconhecido. Vimos que isso é uma lista de critérios, utilizados pela Igreja, para reconhecer se um livro pertence às Escrituras. Vamos agora aplicar esses critérios aos Evangelhos, para saber se eles atendem ao Canon Biblico.
- Origem apostólica: quando lemos os Evangelhos, encontramos alguns detalhes. Só alguém muito próximo de Jesus poderia relatar estes detalhes. Alguém como um dos apóstolos.
- Usado pelos cristãos: quando lemos as obras dos padres da igreja percebemos que os Evangelhos são os livros mais citados. Encontramos tantas citações neles que, se tivéssemos perdido os Evangelhos, poderíamos reconstruí-los usando essas citações. Isto nos mostra que os quatro Evangelhos foram difundidos, aceitos e usados por todas as igrejas do mundo do segundo século.
- Consistência com as Escrituras: as doutrinas dos Evangelhos são consistentes com o resto da Bíblia. Por exemplo, a morte de Jesus pelos nossos pecados e a sua ressurreição foram preditas pelos profetas no Antigo Testamento.
Visto que os Evangelhos atendem ao Cânon Bíblico, eles teriam sido incluidos no Novo Testamento de qualquer maneira. Tambem se eles tivesse sido anônimos como Hebreus. Portanto, eles já eram considerados parte das Escrituras. Isso torna a cospiração inútil.
Papaia termina seu sermão e apresenta o próximo pregador:
Papaia: "Agora, como de costume, Jack o presbítero nos dará uma pregação".
Jack sobe ao púlpito, agradece a Papaia e começa.
Jack: "Irmãos! Gostaria de agradecer ao nosso querido Papaia por nos fazer rir com sua piada sobre os evangelhos anônimos e por introduzir o tema do meu sermão sobre a paternidade dos evangelhos..."
Jack continua apresentando todas as evidências, e Papaia, junto com os outros três conspiradores, ficam boquiabertos.
Igor, rindo, sentado entre os bancos, pensa: "Papaia e seus amigos costumavam estar sempre distraídos durante o sermão, pensando apenas nos espaguetes. Espero que desta vez, as palavras de Jack entrem bem nas cabeças deles, assim como costumam fazer... os espaguetes de Sergio!".
Vamos analisar as chances de sucesso.
Usando os cinco pontos para uma conspiração bem-sucedida, vamos analisar este plano louco.
- Poucos participantes: não sabemos o número exato, mas, para ser viável, precisaríamos de um líder influente para cada área do mundo antigo. No meio do segundo século, existem 12 províncias sob o controle do Império Romano. Esse número é muito grande.
- Comunicação rápida e frequente entre os conspiradores: no segundo século, é impossível comunicar-se rapidamente à distância.
- Duração breve: a conspiração dura até que todas as pistas sejam eliminadas. Isso requer anos de trabalho.
- Laços fortes entre os conspiradores: os padres da igreja são colegas e amigos. Isso não é um vínculo forte o suficiente.
- Pouca pressão psicológica: os conspiradores não estão sujeitos a uma investigação, mas ainda precisam responder a muitas perguntas. Uma mentira tão grande, se descoberta, causaria um grande escândalo e, certamente, resultaria na perda de seus cargos e influência, além de grande vergonha.
Portanto, essa conspiração não tem a menor chance de sucesso. Além disso, como já vimos, a conspiração é praticamente inútil e, portanto, não há um motivo concreto para os conspiradores.
O sermão termina, Papaia e seus amigos fingem que está tudo bem. De volta à sala de reuniões, discutem sobre os eventos.
Papaia: “Então a Igreja sempre soube quem escreveu os evangelhos! Agora entendo por que a reação do Sergio…”.
Voltamos com um flashback alguns dias antes. Quando os quatro ninjas estão, como de costume, no Pomodoro Spaghettato…
Sergio: “Aqui está a conta! Desta vez, não tentem ser espertos!”.
Papaia: “Sergio… tenho uma pergunta para você…”.
Sergio: “A resposta é não! Aqui não fazemos fiado!”.
Papaia paga e explica detalhadamente o plano a Sergio.
Papaia: “… então? O que você acha? Quais são as nossas chances de sucesso?”.
Sergio pensa por um momento, olha para eles e responde... com uma sonora framboesa!
Então, ele os acompanha rapidamente para fora de seu estabelecimento com a seguinte recomendação: “E não voltem mais!”.
Conclusão.
Portanto, os evangelhos seguem o estilo de muitas outras obras da época. Isso explica por que o autor aparece apenas no título. Também vimos que a tradição nos explica detalhadamente por que os autores tradicionais se encontraram escrevendo os evangelhos. Por fim, constatamos que a teoria dos evangelhos escritos por desconhecidos não é sustentada por evidências concretas, e que o plano para realizar a conspiração era impraticável, inútil e extremamente arriscado para os conspiradores. Podemos afirmar com certeza, portanto, que os evangelhos foram escritos pelos autores tradicionais.
Obrigado pela leitura e até o próximo post!
Para saber mais
Argumentos contra a teoria dos evangelhos anônimos.
A historicidade dos evangelhos.
Argumentos sobre a paternidade dos evangelhos.
Não há uma tradição alternativa.
Vídeo completo sobre a paternidade dos evangelhos.
Aniceto e Policarpo sobre a Páscoa.
Os evangelhos estavam em uso nas igrejas do primeiro século.
Josefo: antiguidades dos judeus.
Júlio César: comentários sobre a guerra civil.
Júlio César: as guerras gaulesas.
Simon Gathercole: a suposta anonimidade dos evangelhos canônicos.
Mike Licona: os evangelhos são historicamente confiáveis?
R Bauckham: Jesus e os testemunhos oculares.
Evidências manuscritas para a Bíblia.
As igrejas do segundo século eram descentralizadas.
Michael J. Kruger: Cristianismo na Encruzilhada: Como o Segundo Século Moldou o Futuro da Igreja.
Mike Licona: como o cânone da Bíblia foi formado.
Greg Koukl: Por que incluir Hebreus na Bíblia se não sabemos o autor?